sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


Para atravessar contigo o deserto do mundo.
Para enfrentarmos juntos o terror da morte.
Para ver a verdade, para perder o medo ao lado dos teus passos caminhei.
Por ti deixei meu reino, meu segredo.
Minha rápida noite, meu silêncio.
Minha pérola redonda e seu oriente.
Meu espelho, minha vida, minha imagem.
E abandonei os jardins do paraí­so.
Cá fora à luz sem véu do dia duro.
Sem espelhos vi que estava nua.
E ao descampado se chamava tempo.
Por isso com os teus gestos me vestiste.
E aprendi a viver em pleno vento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Nenhum comentário: