sábado, 5 de dezembro de 2009

silêncio...


É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas
É terrível - sem nenhum fantasma
Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa.
Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Ou neve.
Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida.
Mas este silêncio não deixa provas.
Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite?
Quem ouviu não diz. ...


Clarice Lispector

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