domingo, 30 de agosto de 2009

Metade

Que a força do medo que eu tenho, não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvido e a boca. Porque metade de mim é o que grito mas a outra metade é o silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste. Que a mulher que eu amo seja para sempre amada mesmo que distante. Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento. Porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na clama e na paz que eu mereço. E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso, que eu me lembro ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia e a outra metade é a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é o amor e a outra metade também...

Oswaldo Montenegro

Nenhum comentário: